Tal como
indicado no post anterior, surgiu em 1992 na II Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Convenção da Diversidade Biológica.
Desde então têm sido editadas várias publicações sobre biodiversidade, assim
como se tem assistido a uma crescente preocupação com a extinção de espécies
animais e vegetais, que constituem a natureza biótica do nosso planeta.
No entanto, o
termo Geodiversidade é mais recente
e não tem sido alvo de tanta cobertura mediática, não sendo ainda a sua
definição consensual, mesmo dentro da própria comunidade geológica. Como indica
Brilha (2005) “(…) de acordo com Gary
(2004), o termo surgiu por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e
Paisagística, realizada em 1993 no Reino Unido.”
Ao fazermos
uma simples pesquisa na Web verificamos que existem mais documentos relacionados
com a Biodiversidade do que com a Geodiversidade. E então qual será a
importância da Geodiversidade que “compreende
todos os aspetos não vivos do planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica?”
(Nunes et al, 2007)
De acordo com
a definição da Royal Society for Nature Conservation (Reino Unido) “ a geodiversidade consiste na variedade
de ambientes geológicos, fenómenos e processos que dão origem a paisagens,
rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o
suporte para a vida na Terra”. Sendo
assim, é impossível dissociarmos a Biodiversidade da Geodiversidade, dado que a
natureza abiótica é base da natureza biótica, na medida em que providencia as
condições básicas de sustento e influencia todos os seres vivos que constituem
o ecossistema, no qual o Homem se insere.
A Geodiversidade
tem um valor inegável. Se olharmos para o caso dos Açores, ilhas vulcânicas, onde
a Geodiversidade é assinalável, poderemos observar todos os critérios de
valorização propostos por Gray (2004):
Valor
intrínseco – A Geodiversidade tem valor intrínseco, independentemente da
sua utilidade antropocêntrica.
Valor
Cultural – Como é o caso da “pedra de cantaria de Santa Maria”, elemento
fundamental das típicas casas marienses, extraído de um cone vulcânico
denominado de Pico Vermelho.
Valor
estético – Ao realizar diversos passeios pedestres pela Natureza dos
Açores, verifica-se que a beleza paisagística é incontestável.
Valor
económico – A extração de calcário para a produção de cal e a extração de
argila para o fabrico de telhas no Geossítio da Gruta do Figueiral (Santa
Maria) foram durante muito tempo fontes de rendimento para a população mariense.
Valor
Funcional – Um exemplo deste valor são os ilhéus dos Açores que constituem
um autêntico local de berçário para muitas aves marinhas migratórias.
Valor
Científico e Educativo – o Monumento Natural da Pedreira do Campo,
Figueiral e Prainha “pelos seus níveis
sedimentares, pela sua expressão fossilífera e pela sua idade (cerca de 5
milhões de anos) permitem estabelecer correlações estratigráficas
inter-macaronésicas e da história geológica do Atlântico Nordeste e da
colonização das ilhas macaronésicas” (Parque Natural de Santa Maria).
Imagem: Monumento Natural da Pedreira do Campo,
Figueiral e Prainha
Parque Natural de
Santa Maria
Dado todos os
valores que a Geodiversidade apresenta é indubitável a sua necessidade de
conservação, principalmente perante as ameaças que advém não só da alteração
natural da paisagem, como de atividades antropogénicas, que constituem a maior
ameaça à Geodiversidade, como é o exemplo das atividades recreativas e
turísticas (Ex: Durante muito tempo a trajetória do Rally de Santa Maria
passou pelo Barreiro da Faneca, um geossítio prioritário da ilha. Atualmente a
prática desde desporto é proibida no local) ou da colheita de amostras geológicas
para fins não científicos (Ex: Santa Maria é a única ilha dos Açores que
contém sedimentos fossilíferos marinhos. Durante muito tempo, por falta de
estudos científicos na área da paleontologia, era desconhecida a importância
dos fósseis, sendo estes muito vezes retirados das jazidas para “recordação”).
Imagem:
Barreiro da Faneca
Sentir e
Interpretar o Ambiente dos Açores (SIARAM)
Ponderados os
valores da Geodiversidade e as ameaças a que está sujeita, é inevitável
abordarmos a importância da conservação da Geodiversidade. No entanto a Geoconservação, tal como o conceito de Geodiversidade
ainda não é um termo consensual e conhecido por todos. Segundo Brilha (2005)
este pode ter um sentido amplo que “tem como objetivo a utilização e gestão
sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos
geológicos” e um sentido restrito “(..) entende apenas a conservação de certos
elementos da geodiversidade que evidenciem um qualquer tipo de valor
superlativo, isto é cujo valor se sobrepõe à média”.
Dentro
deste valor restrito encontram-se os Geossítios
– “sítios
de interesse geológico que, pelas suas peculiaridades ou raridade, apresentam
valor (ou relevância) científico, educativo, cultural, económico (e.g.
turístico), cénico ou estético (e.g. paisagístico)” (Geoparque Açores). Ao
conjunto de Geossítos, após a sua inventariação e caraterização, denomina-se de
Património Geológico, que necessita de
implementação de estratégias que visem o seu uso sustentável. Este Património Geológico
é classificado e catalogado de acordo com uma (…) “série de critérios em que se
atribui um dado valor (alto, médio, baixo) ao tipo de interesse do local
proposto, atendendo à importância do seu conteúdo e possível utilização "(Canha,
2007).
Geoparque
Açores
Dos vários
critérios existentes (critérios de interesse cientifico; critérios de interesse
pedagógico/didático; critérios de interesse cultural; critérios de interesse
turístico), destaco o critério de interesse turístico, dada a sua inter-relação
com outro conceito – Geoturismo –
que segundo Moreira (2010) “pode ser definido como um novo segmento de turismo
em áreas naturais, realizado por pessoas que têm o interesse em conhecer mais
os aspetos geológicos e geomorfológicos de um determinado local, sendo esta a
sua principal motivação na viagem”.
Não será o
Geoturismo uma nova aposta para o desenvolvimento sustentável nos Açores?
Concluindo: Os termos Geodiversidade, Geoconservação
e Património Geológico são
interdependentes e relacionam-se entre si. A Geodiversidade apresenta valores
de elevada riqueza e é fruto de vastas ameaças, sendo por isso necessário a sua
conservação – Geoconservação - principalmente para a valorização e proteção dos
sítios peculiares de interesse geológico – Geossítios - que no seu conjunto constituem o
Património Geológico, que necessita de estratégicas, tendo por base o
desenvolvimento sustentável (harmonização e equilíbrio do pilar social,
económico e ambiental).
Referências Bibliográficas:
- Brilha, J.
(2005). Património Geológico e
Conservação – A Conservação da Natureza na sua vertente geológica. Viseu:
Palimage Editores.
- Nunes, J.C; Lima
E. ; Medeiros (2007). Os Açores, Ilhas de Geodiversidade – Contributo da Ilha
de Santa Maria. Açores: Universidade dos Açores.- Secretaria
Regional do Ambiente e do Mar. Parque Natural de Santa Maria. Disponível em http://parquesnaturais.azores.gov.pt/pt/.
Acedido a 04 de maio de 2012.- Associação Geoparque Açores. Geoparque Açores – nove ilhas, um geoparque. Disponível em http://azoresgeopark.com/. Acedido a 04 de maio de 2012.
- Canha, E. (2007). Património Natural da Ilha da Madeira. Estudo de um Local de Interesse Geológico – Cone de Piroclastos da N.ª. Sr.ª da Piedade. Dissertação do Mestrado em Ciência da Terra e da Vida. Departamento de Biologia. Universidade da Madeira.
- Moreira, J. (2010). Geoturismo: Uma Abordagem Histórico – Conceitual. Turismo e Paisagens Cársticas. Revista Científica da Secção de Espeleoturismo da Sociedade Brasileira de Espeleologia. Volume 3 –n.º1. Brasil. Disponível em http://www.sbe.com.br/tpc_v3_n1.asp. Acedido a 04 de maio de 2012.
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