sábado, 5 de maio de 2012

Atividade 3 - Geodiversidade – Conceito e Valores



Tal como indicado no post anterior, surgiu em 1992 na II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Convenção da Diversidade Biológica. Desde então têm sido editadas várias publicações sobre biodiversidade, assim como se tem assistido a uma crescente preocupação com a extinção de espécies animais e vegetais, que constituem a natureza biótica do nosso planeta.

No entanto, o termo Geodiversidade é mais recente e não tem sido alvo de tanta cobertura mediática, não sendo ainda a sua definição consensual, mesmo dentro da própria comunidade geológica. Como indica Brilha (2005) “(…) de acordo com Gary (2004), o termo surgiu por ocasião da Conferência  de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada em 1993 no Reino Unido.”

Ao fazermos uma simples pesquisa na Web verificamos que existem mais documentos relacionados com a Biodiversidade do que com a Geodiversidade. E então qual será a importância da Geodiversidade que “compreende todos os aspetos não vivos do planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica?” (Nunes et al, 2007)

De acordo com a definição da Royal Society for Nature Conservation (Reino Unido) a geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra”. Sendo assim, é impossível dissociarmos a Biodiversidade da Geodiversidade, dado que a natureza abiótica é base da natureza biótica, na medida em que providencia as condições básicas de sustento e influencia todos os seres vivos que constituem o ecossistema, no qual o Homem se insere.


A Geodiversidade tem um valor inegável. Se olharmos para o caso dos Açores, ilhas vulcânicas, onde a Geodiversidade é assinalável, poderemos observar todos os critérios de valorização propostos por Gray (2004):

Valor intrínseco – A Geodiversidade tem valor intrínseco, independentemente da sua utilidade antropocêntrica.
Valor Cultural – Como é o caso da “pedra de cantaria de Santa Maria”, elemento fundamental das típicas casas marienses, extraído de um cone vulcânico denominado de Pico Vermelho.
Valor estético – Ao realizar diversos passeios pedestres pela Natureza dos Açores, verifica-se que a beleza paisagística é incontestável.
Valor económico – A extração de calcário para a produção de cal e a extração de argila para o fabrico de telhas no Geossítio da Gruta do Figueiral (Santa Maria) foram durante muito tempo fontes de rendimento para a população mariense.
Valor Funcional – Um exemplo deste valor são os ilhéus dos Açores que constituem um autêntico local de berçário para muitas aves marinhas migratórias.
Valor Científico e Educativo – o Monumento Natural da Pedreira do Campo, Figueiral e Prainha “pelos seus níveis sedimentares, pela sua expressão fossilífera e pela sua idade (cerca de 5 milhões de anos) permitem estabelecer correlações estratigráficas inter-macaronésicas e da história geológica do Atlântico Nordeste e da colonização das ilhas macaronésicas” (Parque Natural de Santa Maria).


Imagem:  Monumento Natural da Pedreira do Campo, Figueiral e Prainha
Parque Natural de Santa Maria 


Dado todos os valores que a Geodiversidade apresenta é indubitável a sua necessidade de conservação, principalmente perante as ameaças que advém não só da alteração natural da paisagem, como de atividades antropogénicas, que constituem a maior ameaça à Geodiversidade, como é o exemplo das atividades recreativas e turísticas (Ex: Durante muito tempo a trajetória do Rally de Santa Maria passou pelo Barreiro da Faneca, um geossítio prioritário da ilha. Atualmente a prática desde desporto é proibida no local) ou da colheita de amostras geológicas para fins não científicos (Ex: Santa Maria é a única ilha dos Açores que contém sedimentos fossilíferos marinhos. Durante muito tempo, por falta de estudos científicos na área da paleontologia, era desconhecida a importância dos fósseis, sendo estes muito vezes retirados das jazidas para “recordação”).

Imagem: Barreiro da Faneca
Sentir e Interpretar o Ambiente dos Açores (SIARAM)

Ponderados os valores da Geodiversidade e as ameaças a que está sujeita, é inevitável abordarmos a importância da conservação da Geodiversidade. No entanto a Geoconservação, tal como o conceito de Geodiversidade ainda não é um termo consensual e conhecido por todos. Segundo Brilha (2005) este pode ter um sentido amplo que “tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos” e um sentido restrito “(..) entende apenas a conservação de certos elementos da geodiversidade que evidenciem um qualquer tipo de valor superlativo, isto é cujo valor se sobrepõe à média”.

Dentro deste valor restrito encontram-se os Geossítios – “sítios de interesse geológico que, pelas suas peculiaridades ou raridade, apresentam valor (ou relevância) científico, educativo, cultural, económico (e.g. turístico), cénico ou estético (e.g. paisagístico)” (Geoparque Açores). Ao conjunto de Geossítos, após a sua inventariação e caraterização, denomina-se de Património Geológico, que necessita de implementação de estratégias que visem o seu uso sustentável. Este Património Geológico é classificado e catalogado de acordo com uma (…) “série de critérios em que se atribui um dado valor (alto, médio, baixo) ao tipo de interesse do local proposto, atendendo à importância do seu conteúdo e possível utilização "(Canha, 2007).
 Imagem: Geossítios Prioritários de Santa Maria
Geoparque Açores

Dos vários critérios existentes (critérios de interesse cientifico; critérios de interesse pedagógico/didático; critérios de interesse cultural; critérios de interesse turístico), destaco o critério de interesse turístico, dada a sua inter-relação com outro conceito – Geoturismo – que segundo Moreira (2010) “pode ser definido como um novo segmento de turismo em áreas naturais, realizado por pessoas que têm o interesse em conhecer mais os aspetos geológicos e geomorfológicos de um determinado local, sendo esta a sua principal motivação na viagem”.

Não será o Geoturismo uma nova aposta para o desenvolvimento sustentável nos Açores?

Concluindo: Os termos Geodiversidade, Geoconservação e Património Geológico são interdependentes e relacionam-se entre si. A Geodiversidade apresenta valores de elevada riqueza e é fruto de vastas ameaças, sendo por isso necessário a sua conservação – Geoconservação - principalmente para a valorização e proteção dos sítios peculiares de interesse geológico – Geossítios - que no seu conjunto constituem o Património Geológico, que necessita de estratégicas, tendo por base o desenvolvimento sustentável (harmonização e equilíbrio do pilar social, económico e ambiental).


Referências Bibliográficas:
Brilha, J. (2005). Património  Geológico e Conservação – A Conservação da Natureza na sua vertente geológica. Viseu: Palimage Editores.
- Nunes, J.C; Lima E. ; Medeiros (2007). Os Açores, Ilhas de Geodiversidade – Contributo da Ilha de Santa Maria. Açores: Universidade dos Açores.- Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Parque Natural de Santa Maria. Disponível em http://parquesnaturais.azores.gov.pt/pt/. Acedido a 04 de maio de 2012.
- Associação Geoparque Açores. Geoparque Açores – nove ilhas, um geoparque. Disponível em http://azoresgeopark.com/. Acedido a 04 de maio de 2012.
- Canha, E. (2007). Património Natural da Ilha da Madeira. Estudo de um Local de Interesse Geológico – Cone de Piroclastos da N.ª. Sr.ª da Piedade. Dissertação do Mestrado em Ciência da Terra e da Vida. Departamento de Biologia. Universidade da Madeira.
- Moreira, J. (2010). Geoturismo: Uma Abordagem Histórico – Conceitual. Turismo e Paisagens Cársticas. Revista Científica da Secção de Espeleoturismo da Sociedade Brasileira de Espeleologia. Volume 3 –n.º1. Brasil. Disponível em http://www.sbe.com.br/tpc_v3_n1.asp. Acedido a 04 de maio de 2012. 

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