quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Património Geológico Português. Geoconservação e Geoturismo.


“Quando viajamos pelo nosso território, temos a sensação de percorrer regiões pertencentes a países diferentes, tal é o contraste que apresentam entre si, o qual é acentuado pelas influências climáticas atlânticas e mediterrânicas. Quando a isto juntamos as belíssimas ilhas da Madeira e dos Açores, de génese vulcânica, de clima ameno, em pleno oceano, bem podemos agradecer a sorte que a Natureza nos brindou. Assim soubéssemos cuidar capazmente do que nos foi dado” (Ramalho, 2004).

Se subirmos ao Pico Alto, o ponto mais alto da ilha de Santa Maria, temos oportunidade de vislumbrar duas paisagens distintas divididas a meio por uma cadeia de picos vulcânicos. Por um lado temos uma área caracterizada pela sua cor amarelo-acastanhada, uma zona mais seca e aplanada, por outro lado temos uma zona verde onde predomina a vegetação, apresentando um relevo movimentado e uma temperatura mais húmida (Monteiro & Furtado,2005).

Se juntarmos ao ponto de vista geomorfológico, o facto de Santa Maria ser a única ilha do Arquipélago dos Açores com “afloramentos de rochas sedimentares, incluindo calcários, calcarenitos e conglomerados, frequentemente com conteúdo fóssil abundante e diversificado” que se intercalam com rochas e materiais vulcânicos (Nunes et al, 2007), podemos facilmente perceber a sua potencialidade como um excelente destino de Geoturismo.

Santa Maria apresenta um rico conjunto de jazidas fossilíferas com fósseis marinhos que datam do Mio-Pliocénico e do Plistocénico. Durante muito tempo não foi atribuída relevância aos fósseis marinhos presentes na ilha. No entanto, em 2002 a investigação científica começa com um grupo de investigação denominado de “MPB – Marine PalaeoBiogeography Working Group”, que teve como resultado “o aumento acentuado de publicações de artigos em revistas da especialidade internacionais, bem como dos livros de divulgação sobre o património paleontológico de Santa Maria” (Ávila et al, 2010). 

“Pedra-que-Pica” uma das jazidas mais imponentes da ilha de Santa Maria.
 Autoria: Paulo Henrique Silva (Siaram.azores.gov.pt)


Para além dos trabalhos de campo que eram efetuados durante o dia, este grupo de investigadores venciam o cansaço, e proporcionavam serões agradáveis à população em geral e a todos os visitantes que estivessem interessados em conhecer os estudos efetuados na área da paleontologia na ilha de Santa Maria – “O Património tem obrigatoriamente que assentar no desenvolvimento equilibrado entre a Investigação Científica, de qualidade e internacionalmente reconhecida, a Divulgação Científica junto do grande público (…)” (Ramalho, 2004).

Apesar da sua importância, verificamos que não existe legislação vigente que proteja a conservação do Património Paleontológico de Santa Maria. O Decreto Legislativo Regional n.º 47/2008/A que consagra o Parque Natural de Santa Maria estabelece algumas normas que abrangem algumas das jazidas fossilíferas existentes. Contudo, penso que tal não será suficiente para a proteção, conservação, gestão e uso sustentável do Património Paleontológico.

A solução poderá passar pela criação de um Paleoparque, que de acordo com Lipps (2009) torna-se crucial para a preservação das jazidas fossilífera in situ, para além dos Paleoparques possuírem um valor cientifico, educacional, turístico e artístico inegável (Ávila et al, 2011).


Felizmente, já se encontram agregados esforços para a criação de legislação específica e para a candidatura da riqueza paleontológica mariense a Paleoparque.



Referências Bibliográficas:
Ávila, S. et al (2010). Os fósseis de Santa Maria (Açores). A Jazida da Prainha. Marine PalaeoBiogeography Working Group. Açores: Vitor Hugo Forjaz (OVGA).

Ávila, S. et al (2011).8th International Workshop “Palaeontology in Atlantic Islands”. Santa Maria Island (Azores). Marine PalaeoBiogeography Working Group. Açores: Vitor Hugo Forjaz (OVGA).

Cachão, M. & Silva, C. (2004). Introdução ao Património Paleontológico Português: definições e critérios de classificação. Associação Portuguesa de Geólogos. Geonovas n.º 18. PP. 13 A 19.

Monteiro, R. & Furtado, S. Descrição da Paisagem da ilha de Santa Maria. Sentir e Interpretar o Ambiente dos Açores. Disponível em http://siaram.azores.gov.pt/geografia/sta-maria/paisagens.html. Acedido a 29 de maio de 2012.

Nunes, J.C; Lima E. ; Medeiros (2007). Os Açores, Ilhas de Geodiversidade – Contributo da Ilha de Santa Maria. Açores: Universidade dos Açores.

Ramalho, M. (2004). Património Geológico Português – importância cientifica, pedagógica e sócio-económica. Associação Portuguesa de Geólogos. Geonovas n.º 18. PP. 5 A.



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