“Quando viajamos pelo nosso
território, temos a sensação de percorrer regiões pertencentes a países
diferentes, tal é o contraste que apresentam entre si, o qual é acentuado pelas
influências climáticas atlânticas e mediterrânicas. Quando a isto juntamos as
belíssimas ilhas da Madeira e dos Açores, de génese vulcânica, de clima ameno,
em pleno oceano, bem podemos agradecer a sorte que a Natureza nos brindou.
Assim soubéssemos cuidar capazmente do que nos foi dado” (Ramalho, 2004).
Se subirmos ao Pico Alto, o ponto
mais alto da ilha de Santa Maria, temos oportunidade de vislumbrar duas
paisagens distintas divididas a meio por uma cadeia de picos vulcânicos. Por um
lado temos uma área caracterizada pela sua cor amarelo-acastanhada, uma zona
mais seca e aplanada, por outro lado temos uma zona verde onde predomina a
vegetação, apresentando um relevo movimentado e uma temperatura mais húmida
(Monteiro & Furtado,2005).
Se juntarmos ao ponto de vista geomorfológico, o facto
de Santa Maria ser a única ilha do Arquipélago dos Açores com “afloramentos de
rochas sedimentares, incluindo calcários, calcarenitos e conglomerados, frequentemente
com conteúdo fóssil abundante e diversificado” que se intercalam com rochas e
materiais vulcânicos (Nunes et al,
2007), podemos facilmente perceber a sua potencialidade como um excelente
destino de Geoturismo.
Santa Maria apresenta um rico
conjunto de jazidas fossilíferas com fósseis marinhos que datam do Mio-Pliocénico
e do Plistocénico. Durante muito tempo não foi atribuída relevância aos fósseis
marinhos presentes na ilha. No entanto, em 2002 a investigação científica
começa com um grupo de investigação denominado de “MPB – Marine
PalaeoBiogeography Working Group”, que teve como resultado “o aumento acentuado
de publicações de artigos em revistas da especialidade internacionais, bem como
dos livros de divulgação sobre o património
paleontológico de Santa Maria” (Ávila et
al, 2010).
“Pedra-que-Pica” uma das jazidas
mais imponentes da ilha de Santa Maria.
Autoria: Paulo Henrique Silva
(Siaram.azores.gov.pt)
Para além dos trabalhos de campo
que eram efetuados durante o dia, este grupo de investigadores venciam o
cansaço, e proporcionavam serões agradáveis à população em geral e a todos os visitantes
que estivessem interessados em conhecer os estudos efetuados na área da paleontologia
na ilha de Santa Maria – “O Património tem obrigatoriamente que assentar no
desenvolvimento equilibrado entre a Investigação Científica, de qualidade e
internacionalmente reconhecida, a Divulgação Científica junto do grande público
(…)” (Ramalho, 2004).
Apesar da sua importância, verificamos
que não existe legislação vigente que proteja a conservação do Património
Paleontológico de Santa Maria. O Decreto
Legislativo Regional n.º 47/2008/A que consagra o Parque Natural de Santa Maria
estabelece algumas normas que abrangem algumas das jazidas fossilíferas
existentes. Contudo, penso que tal não será suficiente para a proteção,
conservação, gestão e uso sustentável do Património Paleontológico.
A solução poderá passar pela criação
de um Paleoparque, que de acordo com Lipps (2009) torna-se crucial para a
preservação das jazidas fossilífera in
situ, para além dos Paleoparques possuírem um valor cientifico,
educacional, turístico e artístico inegável (Ávila et al, 2011).
Felizmente, já se encontram
agregados esforços para a criação de legislação específica e para a candidatura da riqueza
paleontológica mariense a Paleoparque.
Referências
Bibliográficas:
Ávila, S. et al
(2010). Os fósseis de Santa Maria
(Açores). A Jazida
da Prainha. Marine PalaeoBiogeography Working Group. Açores:
Vitor Hugo Forjaz (OVGA).
Ávila, S. et al (2011).8th International
Workshop “Palaeontology in Atlantic Islands”. Santa Maria Island (Azores). Marine PalaeoBiogeography
Working Group. Açores: Vitor Hugo Forjaz (OVGA).
Cachão,
M. & Silva, C. (2004). Introdução ao Património
Paleontológico Português: definições e critérios de classificação. Associação
Portuguesa de Geólogos. Geonovas n.º 18. PP. 13 A 19.
Decreto Legislativo Regional n.º 47/2008/A, de 7 de
Novembro – Parque Natural de Santa Maria.
Disponível em http://www.azores.gov.pt/NR/rdonlyres/E916375B-BA5E-46CB-B00C-1323E05CB763/528928/DLR_47_2008_A.pdf . Acedido a 29 de maio de 2012.
Monteiro, R. & Furtado, S. Descrição da Paisagem da ilha de Santa Maria. Sentir e Interpretar
o Ambiente dos Açores. Disponível em http://siaram.azores.gov.pt/geografia/sta-maria/paisagens.html. Acedido a 29 de maio de 2012.
Nunes, J.C; Lima E. ; Medeiros (2007). Os Açores, Ilhas de
Geodiversidade – Contributo da Ilha de Santa Maria. Açores:
Universidade dos Açores.
Ramalho,
M. (2004). Património Geológico Português
– importância cientifica, pedagógica e sócio-económica. Associação
Portuguesa de Geólogos. Geonovas n.º 18. PP. 5 A.